segunda-feira, 14 de junho de 2010

A comunicação como acção dramática (Goffman)

No estudo da vida quotidiana presta-se atenção:
- às rotinas : repetição dos modelos do comportamento que conferem a forma e a estrutura à nossa actividade;
- à construção social da realidade : a realidade não é fixa ou estática, mas é recriada continuamente através das interacções sociais;
- ao modo como os modelos de interacção social influenciam os sistemas e as instituições de dimensão mais ampla.

A interacção
Interacção : “ a influência recíproca dos indivíduos sobre as acções uns dos outros numa situação de presença física imediata “
- O todo das acções recíprocas e directas na presença física de outros indivíduos ou, pelo menos, dentro do seu campo de visão ou auditivo
- As interacções sociais constituem o cruzamento entre as instituições e as decisões individuais: são o “espelho” das relações, do poder, da autoridade, da organização.
- >As interacções centram-se em pequenos processos mas estes estão ligados a outros de maior amplitude.
- O material do estudo do Goffman é a observação do comportamento, como o todo das proposições faladas, dos olhares, gestos e atitudes com que os indivíduos enfrentam e definem uma situação
- Estes comportamentos são guiados por uma capacidade prática inconsciente. As acções, como factos sociais, tornam-se necessárias para os indivíduos, constituindo “uma ordem de interacção”
- Goffman pretende compilar uma espécie de gramática dos comportamentos

O Eu comunicativo
- O Eu é contingente, dependendo das circunstâncias e rituais da interacção: apresentamos o Eu “certo” segundo as normas de situações sociais específicas.
- O modelo de Goffman supõe que os seres humanos desejam aprovação. Desejamos ser aplaudidos, portanto apresentamos a melhor face que podemos.
- A aparência é importante.
- Não só “agimos”, como “actuamos” pela comunicação.
- Exprimimos o modo como queremos ser vistos.
- Temos em mente os significados dos nossos actos.
- Assumimos o papel do outro.
- Esperamos continuidade do comportamento social.
- As nossas acções comunicativas têm padrões conforme o nosso status e os grupos a que pertencemos.
- O Eu constrói-se na interacção comunicativa.
- A interacção social tem padrões – não é aberta a toda e qualquer definição e negociação do significado. Tem de ser feita:
- com outras pessoas;
- com os constrangimentos estruturais que afectam as pessoas (status, papéis)


Teoria da comunicação em Goffman
Teoria : estrutura dos encontros sociais que podem ser investigados construindo “os quadros (os pontos de referência) usados pelas pessoas para interpretar e “organizar” as interacções.

Perspectiva : interaccionista simbólica
Abordagem : “dramatúrgica:modo de apresentação usado pelo actor e sua significação no contexto social mais vasto. A interacção é estudada como “um desempenho dramático”, formado pelo ambiente e pelo “público”, construída para fornecer aos outros “impressões”.

Método
“A perspectiva que é usada neste trabalho é a da representação teatral, os princípios correspondentes são de ordem dramática. Considerarei o modo como o indivíduo, em situações de trabalho individuais, se apresenta a si próprio e à sua actividade perante os outros.”


A Comunicação como Drama Teatral
Para Goffman, a sociedade é como um palco onde os actores, até certo ponto, premeditadamente manipulam e retêm informação sobre si, para garantir uma impressão favorável.
A vida social pode ser comparada a um palco onde os actores se mostram em representação, desempenhando ‘papéis’ de acordo com a situação.
A metáfora do teatro não implica que a vida social seja fictícia e que os actores estejam necessariamente conscientes de ‘actuar’.
Pelo contrário, quase sempre definimos e vivemos a situação de forma espontânea.

- Na vida quotidiana há problemas semelhantes aos experienciados pelos actores num palco – tornar as suas acções credíveis e convincentes para a audiência.
- Os indivíduos apresentam uma impressão de si próprios através das suas capacidades expressivas, criando uma ‘frente’: uma imagem do Eu que se projecta sobre os outros.


Para Goffman, o nosso Eu não é a causa das nossas performances de personagem, é o efeito. Poderíamos ver a questão como:
Eu ------> Performance teatral (desempenho)
Goffman inverte:
Desempenho -----> Eu


Um papel central para a comunicação
- Capacidade expressiva através da qual os indivíduos desenvolvem a gestão das impressões que os outros recebem deles.
- O desempenho de um indivíduo será a forma como age, consciente de que os outros presenciam essa acção, ou seja, “tentando controlar a impressão que estes recebem da situação”
- Os indivíduos criam a definição de uma situação social que os outros devem aceitar à partida.

Interacção e definição da situação
- O mundo social é precário e a ordem social nunca está totalmente ganha.
- A interacção é o momento fundamental onde definimos a situação, no encontro com os outros.
- A interacção é também um jogo constante de apresentações de nós próprios/as e de esquadrinhamento do outro durante a intersecção.

Definição da situação
- Uma das primeiras tarefas de todo o encontro social é a definição da situação que leva a uma certa distribuição dos lugares e dos papéis ocupados por cada um dos intervenientes.
- Ao mesmo tempo que definimos a situação projectamos uma imagem de nós próprios/as.
- A comunicação é central a este processo.

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